Em meio a isso tudo, vejo os agradecimentos aos profissionais da saúde, que são considerados verdadeiros heróis. Eu entendo o que as pessoas querem dizer, mas os profissionais da saúde não são heróis (Sou profissional da saúde, viu!). Nós somos, na realidade, tão frágeis quanto você. Queríamos, claro, ter superpoderes, de fato. Ter o poder de curar a pessoa que você ama, afinal, ela é o amor de alguém. Pode ser o seu pai, o meu pai e por aí vai.
Acontece que em meio a isso tudo, muitos de nós nos sentimos impotentes. Os EPIs faltam ou são poucos, muitas vezes precisamos reutilizar algo para não ficar sem usar nada. Não tem vaga pra todo mundo, seja em enfermaria ou UTI e isso é simplesmente desesperador.
Ao mesmo tempo você se sente desvalorizado e com raiva, ao ver as pessoas subestimando o vírus no meio da rua. É como se todo o seu esforço durante o seu trabalho no hospital fosse em vão. E, digo mais, como se essas pessoas pouco se importassem para o fato de você e estar longe da sua família e na angústia de algum deles pegar a doença, principalmente na forma grave, e vir até mesmo a falecer de COVID-19. Longe de você. Olha só o peso das ações irresponsáveis de uma pessoa interferindo diretamente na vida de outra e sua família sem mesmo conhecê-la.
Se tem uma coisa angustiante é combater um inimigo invisível. É você sair do hospital sem saber se você se contaminou mesmo tendo tomado todos os cuidados. É ficar hospedada num quarto de pousada longe das pessoas ao redor e das pessoas que você ama.
É bizarro ver reportagens de várias covas cavadas em um mesmo terreno para enterrar os corpos de pessoas que foram vítimas do SARS-CoV-2 e perceber que os brasileiros reduzem uma imagem absurda e impactante dessas à brigas e extremismos políticos.
Estamos afundando num poço que aparentemente não tem fundo.
É surreal saber que uma pessoa totalmente incapaz de governar um país continental como o Brasil, ao ser questionado sobre o número de mortes responde:
"E daí?"