quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O pior inimigo da criança tem nome: mingau.

Isso mesmo que você leu: mingau. Eu tive uma reação de espanto ao ouvir isso ontem de noite no I Curso de Abordagem Clínica na Atenção Primária da LIAPS da Universidade de Fortaleza (e aqui vai outra revelação... que nem é tão revelação assim: não, estudante de Medicina não tem férias totalmente de verdade). A professora pediatra Fernanda Colares de Borba Netto, graduada em Medicina pela UFRJ, ministrou uma excelente aula sobre desnutrição e obesidade infantil. Foi ela que explicou para mim (e para os outros participantes também) o porquê de o mingau ser um vilão. Sim, aquele inocente mingau não é tão inocente assim. Enfim, vou explicar do jeito que entendi.

Antigamente, não se existia leite em caixa como há hoje nos mercadinhos. O leite que era dado às crianças era proveniente da vaca. Diretamente da vaca, sem passar por nenhum processo industrial. Ok, a questão é que o leite da vaca foi feito pro bezerro, lógico; mas, nos tempos antigos (ou até hoje mesmo, no caso de famílias carentes de recursos financeiros), era a única opção pra criança, não? Compare o tamanho de uma criança de 1 ou 2 anos com um bezerro. Tem diferença, claro. A carga proteica presente no leite da vaca é considerável e não aconselhável para uma criança pequena.

Para prevenir possíveis complicações decorrentes desse leite altamente proteico e tudo mais, os pais ou responsáveis pela criança colocavam maizena ou farinha em pequenas porções desse leite, com a intenção de "diluir" aquela forte carga proteica para que a criança pudesse ter acesso a um leite mais "compatível" com o seu organismo.

Os leites de caixa aos quais temos acesso hoje, porém, não são a mesma coisa de um leite de vaca puro. O leite pode ser proveniente da vaca, mas, a partir do momento em que ele passa por processos industriais, sofre modificações favoráveis ao consumo humano. Em outras palavras, não há aquela excessiva carga proteica, ou seja, não há necessidade de se "diluir" esse leite. Caso você mesmo assim decida fazer isso, você estará diminuindo a quantidade de proteínas e aumentando a quantidade de carboidratos oferecidos a criança. Você aumenta a oferta de energia, mas diminui nutrientes importantes. Isso pode muito bem favorecer o desenvolvimento da obesidade infantil.

O ideal seria apenas a oferta de leite e não de mingau. O mingau seria diminuir a oferta de proteínas pra criança e aumentar os carboidratos. Não é legal. Isso é bem interessante e faz sentido, mas confesso que acho difícil as pessoas pararem esse hábito, pois já é cultura. Todo bebê tem que tomar seu "gagau" e a mãe acha ruim caso o bebê não o tome. Eu já fui um bebê desses. Você também que eu sei.

Enfim, foi isso que entendi.