sexta-feira, 1 de maio de 2020

Reflexões em meio a uma pandemia catastrófica

Quem diria que 2020 seria desse jeito, não é mesmo?! Nunca pensei que fosse vivenciar algo assim durante a minha passagem na terra, mas,  como já falei em textos anteriores, a vida é uma caixinha de surpresas e aqui estamos nós em meio a uma pandemia que já fez encerrar a vida de muita gente (e que, até terminar, ainda irá levar mais pessoas, infelizmente).

Em meio a isso tudo, vejo os agradecimentos aos profissionais da saúde, que são considerados verdadeiros heróis. Eu entendo o que as pessoas querem dizer, mas os profissionais da saúde não são heróis (Sou profissional da saúde, viu!). Nós somos, na realidade, tão frágeis quanto você. Queríamos, claro, ter superpoderes, de fato. Ter o poder de curar a pessoa que você ama, afinal, ela é o amor de alguém. Pode ser o seu pai, o meu pai e por aí vai.

Acontece que em meio a isso tudo, muitos de nós nos sentimos impotentes. Os EPIs faltam ou são poucos, muitas vezes precisamos reutilizar algo para não ficar sem usar nada. Não tem vaga pra todo mundo, seja em enfermaria ou UTI e isso é simplesmente desesperador. 

Ao mesmo tempo você se sente desvalorizado e com raiva,  ao ver as pessoas subestimando o vírus no meio da rua. É como se todo o seu esforço durante o seu trabalho no hospital fosse em vão. E, digo mais, como se essas pessoas pouco se importassem para o fato de você e estar longe da sua família e na angústia de algum deles pegar a doença, principalmente na forma grave, e vir até mesmo a falecer de COVID-19. Longe de você. Olha só o peso das ações irresponsáveis de uma pessoa interferindo diretamente na vida de outra e sua família sem mesmo conhecê-la.

Se tem uma coisa angustiante é combater um inimigo invisível. É você sair do hospital sem saber se você se contaminou mesmo tendo tomado todos os cuidados. É ficar hospedada num quarto de pousada longe das pessoas ao redor e das pessoas que você ama.

É bizarro ver reportagens de várias covas cavadas em um mesmo terreno para enterrar os corpos de pessoas que foram vítimas do SARS-CoV-2 e perceber que os brasileiros reduzem uma imagem absurda e impactante dessas à brigas e extremismos políticos.

Estamos afundando num poço que aparentemente não tem fundo.

É surreal saber que uma pessoa totalmente incapaz de governar um país continental como o Brasil, ao ser questionado sobre o número de mortes responde: 

"E daí?" 

domingo, 5 de abril de 2020

Angústia diária

Hoje percebi que faz mais de um ano em que não escrevo aqui. Falta de ideia que não foi. De qualquer forma, estamos de volta.

Pois bem... tenho me deparado com algumas angústias. Li recentemente o livro "A morte é um dia que vale a pena viver" (recomendo!) e nele descobri outra obra que é a que estou lendo no momento que se chama "Os quatro compromissos" (fantástico! Todo ser humano deveria ler!), que me fez refletir um pouco... principalmente diante de tudo o que estamos vivendo atualmente devido à pandemia COVID-19.

Daí que agora aquelas suas roupas caras já não importam tanto ou toda aquela ostentação (exceto se você continua se passando no Instagram) e começamos a perceber que as coisas que realmente importam estão fazendo falta: a família, os amigos, os encontros e reencontros da vida. E ao mesmo tempo, quantas correntes nos prendem ao orgulho, ao sofrimento, à angústia!

Nascemos livres, porém somos domesticados pelas doutrinas sociais e ensinamentos "corretos" que nossos pais aprederam e nos repassam. Crescemos com esse padrão do que é correto para a sociedade dentro da nossa cabeça e acabamos vivendo a vida que os outros acham perfeita para nós e não a vida perfeita que o nosso eu interior gostaria que vivêssemos.

Por que a opinião do outro tem tanto peso em mim? Por que eu deixo de acreditar em mim mesma pra acreditar na opinião do outro? É aí que mora o perigo! Pois o que acontece é que, se chegar uma  pessoa com a intenção simplesmente de fazer você desmoronar... ela consegue! A gente não consegue se desvencilhar dessas amarras de ser o que o mundo quer que a gente seja! A gente tem medo de confrontar e não ser aceito! A gente tem medo de confrontar e ser rejeitado!

Por que as pessoas não conseguem ser elas mesmas?

Fica o questionamento.

sábado, 4 de agosto de 2018

Relacionamento abusivo não é amor

Ninguém é posse de ninguém. Ninguém é de ninguém.

Muitas pessoas confundem amor com sentimento de posse. Fico muito triste em ler notícias em que mulheres foram agredidas e até mesmo mortas pelo seu companheiro. Fico muito triste pelo grande número de mulheres que vivem em relacionamentos abusivos e, por algum motivo que não devemos julgar, não conseguem sair do relacionamento.

Poxa, acabei de ver a reportagem da advogada que foi morta pelo marido. Que agonia, que tristeza assistir às imagens. E, sinceramente? Em briga de marido e mulher temos que meter a colher. Não tem isso de que em briga de casal ninguém se mete não. Uma mulher linda, inteligente morreu.

Eu acredito que o amor é que nem uma plantinha: você tem que regar, colocar pra pegar luz do sol (mas sem queimar) e tirar as ervas daninhas. Tem gente que simplesmente não entende isso, que acha que a planta deve ser tratada como bem entender, que ela não precisa de sol ou água, ou até mais absurdo, que é a pessoa quem decide quando a planta deve receber sol ou água.

Um relacionamento em que uma das pessoas trata a outra dessa forma acaba com todo o amor que um dia existiu. É triste. Se for pra ser assim, melhor cada um ir pro seu lado e seguir com a sua vida. É o melhor pra cada.

Muitas mulheres permanecem com parceiros assim durante anos. Sofrendo agressão física e psicológica. Algumas conseguem dar fim a esse sofrimento. Muitas das vezes, quando elas estão conseguindo ir embora,  eles se fazem de bonzinhos e que estão mudando para que suas parceiras fiquem.

Um cara desses é pra apodrecer na cadeia.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Sobre faculdade, medicina, carreira profissional, vida e afins

Durante algum tempo eu pensei que as grandes pessoas desse mundo eram aquelas super mega hiper bem sucedidas profissionalmente. E talvez elas sejam mesmo. Mas não só elas. Todo mundo tem um quê de especial. Acontece que não apenas as pessoas bem sucedidas profissionalmente são grandes pessoas... todo mundo é uma "grande pessoa" por dentro ou pelo menos tenta ser.

Antes eu pensava que para ser um bom médico você teria que ser bastante conhecido. Acredito que eu pensava assim pelo fato de os professores da faculdade terem mestrado,  doutorado, residência no exterior, vários artigos publicados.. e não tenho a dúvida de que todos (ou a grande maioria) são grandes médicos (não só no âmbito da formação em si, mas na parte humana da medicina, na relação médico-paciente também). Tudo na vida tem seu preço: se você quiser ser um médico bastante conhecido, você terá que abrir mão de algumas coisas da sua vida. Mas existem também bons médicos (tanto na parte da ciência como da formação acadêmica) que ficam mais nos bastidores, que não são professores ou pesquisadores da faculdade, mas que dão um verdadeiro show de exercício da Medicina sem viver exatamente apenas para ela (não que os professores façam apenas isso, mas muitos deles nos dão a entender que nós devemos viver para a faculdade e isso causa bastante ansiedade em nós, alunos... pois... nós somos humanos, temos nossas necessidades de curtir a família, o marido/namorado/ficante/rolo, de viajar, de apreciar uma boa música, de beber de vez em quando).

Ainda bem que as coisas estão mudando. Nesses meus 10 semestres de FAMED, uma coisa que eu pude perceber é que tem muita coisa na faculdade que pode ser mudada. Muitos módulos que podem ser reconfigurados, otimizados... Muitas informações "vomitadas", que nós não fixamos nada na cabeça e não aprendemos o básico que o médico generalista deve saber. Há alguns módulos - ainda bem - em que os professores já perceberam isso e fizeram mudanças maravilhosas... Mas outros que é simplesmente uma tortura ir pra aula.

Mas voltando ao assunto anterior... porque as pessoas colocam tanto na nossa cabeça que o médico não tem vida? Eu, pelo menos, não tenho a mínima intenção de repassar ou de viver a vida de uma médica que é doente de tanto trabalhar. Como eu posso cuidar da saúde de alguém se eu não cuido nem da minha? Há algo errado. Por que nos sobrecarregam tanto no internato se as coisas podem ser divididas ou pelo menos compartilhadas? Por que há médicos - que já foram estudantes de Medicina, pasmem! - que nem olham pro interno se ele mesmo já foi um? Se ele cuida de... pessoas?! Há  algo muito errado na formação médica e há algo muito errado na vida que querem que nós, futuros médicos, tenhamos.

É bem fácil de entender tudo isso... é só pesquisar sobre suicídio de estudantes de Medicina e médicos. Não é raridade. É triste.

Uma coisa que eu tenho certeza é que eu vou cuidar da minha saúde pra poder cuidar dos meus pacientes.

sábado, 24 de março de 2018

O medo de ficar só

O mundo em que a gente vive é mesmo uma contradição: tanta gente com tanto amigo em facebook, instagram, etc e ao mesmo tempo tão só. Na realidade, o importante é não aparentar estar só.

Eu não sei em que momento colocaram na cabeça das pessoas que estar só é uma coisa ruim, acho, na verdade, que a angústia de preencher um espaço que não está sendo preenchido é o que é ruim. De que adianta você sair com algumas pessoas pra se passar de feliz nas redes sociais? Quando, no fundo, você nem tá feliz que nem na foto.

Vivemos em um mundo em que as aparências estão cada vez mais mandando em tudo. É claro que todo mundo gosta de se sentir bem, se sentir bonito, mas, no fundo, o que importa é o que você sente por dentro. Nada melhor do que aquela conversa com o seu amigo/sua amiga que dura horas, em qualquer canto, sobre qualquer coisa, mas que você se sente em paz. Sem precisar postar em rede social nem nada, sem ninguém precisar saber o que você tá fazendo naquele momento.

E até mesmo sozinho você pode se sentir bem.Você já experimentou simplesmente deitar e ficar escutando música, curtindo a música e... só isso? Pode ser mais libertador do que muita coisa por aí. As pessoas estão presas a correntes invisíveis que estão cada vez mais fortes. A gente não precisa de muito pra ser feliz.

segunda-feira, 19 de março de 2018

O problema (atual) das pessoas de querer rotular tudo e todos


Nós estamos vivendo numa época interessante e inovadora, mas,  ao mesmo tempo, bem chata.
Digo interessante e inovadora porque as pessoas finalmente estão refletindo (ou pelo menos tentando refletir) mais sobre as coisas que estão acontecendo em nossa volta, não estão ficando apenas caladas e aceitando tudo o que é imposto a elas.

Por outro lado, estamos vivendo, ao mesmo tempo, uma época bem chata: primeiro que temos vários revolucionários de Facebook, mas, os que realmente tentar por a mão na massa são poucos. Vejo pessoas perdendo amizades, criando inimizades porque não sabem discutir de forma civilizada nem aceitar a opinião alheia (como se a delas fosse a única certa).

Marielle Franco morreu (na realidade, foi morta!). As pessoas agora discutem se a mulher era de esquerda, negra, do grupo LGBT... e a discussão fica presa nessa parte e ninguém parece querer focar no mais importante e mais indignante... ela e o motorista foram mortos! Ela podia ser de esquerda, de direita, qualquer opção sexual e o motorista também, mas a questão aqui é que eles foram assassinados! Tem gente na internet que fica rindo de uma coisa dessas, de duas vidas que foram interrompidas antes do tempo. Poxa, meu povo, melhorem!

Não quero aqui entra na questão da opção política, nem sexual, nem nada... só queria mesmo que as pessoas enxergassem que uma vida humana vai muito além de tudo isso... é uma vida! Ali era uma pessoa que tinha sua família, seus amigos, seus gostos, etc. As pessoas parecem que ao mesmo tempo que tentar """refletir""" sobre algo perdem a empatia pelo outro como se tudo se resumisse à política... se esse é o rumo que as pessoas "evoluídas" desse país acham que devemos seguir: tá tudo muito errado, meu povo... a única coisa que vai acontecer é que vamos afundar todos juntos e quem nos massacra vai continuar nos massacrando como sempre fez... pq pense num povo desunido!

Ai ai...

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Não antecipe seus cabelos brancos, amiga


Acho que todos nós temos uma mania besta virginiana de tentar programar toda a nossa vida (como se a gente tivesse algum poder sobre ela). Quanta tolice, né...

Vou te contar uma verdade bem verdadeira real e oficial: nós não temos controle sobre nada (nem sobre nós mesmos). Não adianta querer que tudo aconteça como você planejou, porque o mundo não gira do jeito que você quer (aliás, ele continua a girar você estando aqui ou não). 

Ao contrário do que as pessoas pensam, porém, isso não é necessariamente ruim. As peças que a vida prega na gente faz a gente desenvolver nossa capacidade de lidar com as dificuldades. A gente passa a se adaptar a uma nova situação e a desenvolver a habilidade de replanejar tudo o que havíamos programado anteriormente. Em uma das minhas aulas de psicopatologia a professora falou para uma paciente para ela direcionar a "preocupação" (não lembro ao certo se a palavra era essa) dela apenas para as coisas sobre as quais ela tinha controle/podia mudar, não adiantava gastar energia, se estressar por algo que você não pode modificar ou solucionar.

Qual a necessidade de programar absolutamente tudo? E qual a graça de acontecer tudo como você programou?

É claro que você tem realmente que fazer um planejamento geral da sua vida, o que eu digo é essa necessidade das coisas acontecerem tudo nos mínimos detalhes como você programou. Algumas coisas devem acontecer naturalmente, sem forçar. Isso é ruim, porque quando as coisas não acontecem de acordo com o filme da sua cabeça, você se frustra.

A vida que levamos é uma vida corrida, estressante. Temos que cumprir tantas funções ao mesmo tempo que não conseguimos aproveitar as coisas simples (que, muitas vezes, são as coisas que importam). Tipo sentar na areia da praia e ficar escutando o barulho das ondas. Tem coisa melhor?!

A vida é só uma, não adianta ficar se estressando por qualquer coisinha. A gente tem é que aproveitar aos mínimos detalhes, isso sim.