sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

As pegadas



Nesta última semana do ano - e mais uma semana de férias, diga-se de passagem - aproveitei pra fazer algo que eu sempre gosto de fazer: pedalar na beira mar e depois sentar na areia e observar o mar. Quanta riqueza podemos observar... Vi uma senhora passeando com seus dois cachorros: um grande e outro bem pequeno, esse último, inclusive veio correndo até mim e lambeu meu rosto. Também vi uma criança muito feliz ao tomar banho nas ondas do mar. Vi também uma mulher correndo na areia úmida, deixando pegadas onde pisava. E, por mais simples que isso seja - e corriqueiro - comecei a refletir...

Cada um deixa suas próprias pegadas na areia.

Algumas pessoas têm os pés maiores e outras pés menores, alguns são pés gordinhos e outros têm pés finos; outros pés são ásperos, calejados... já outras pessoas possuem pés macios... além disso, as impressões digitais são diferentes... Em suma, cada pessoa tem pés cujas características dizem respeito a essa mesma pessoa.

Começamos nossas pegadas na praia da vida quando nascemos e durante a nossa vida vamos formando mais pegadas, aumentando nosso caminho... A marca do pé pode até ser diferente (pois crescemos, por exemplo), podemos mudar a direção... Nosso caminho é.. nosso.

A vida é muito. Podemos ter família e amigos, podemos comer aquele pedaço de pizza do sabor que amamos, podemos assistir nossa série de televisão preferida (oi, Netflix), podemos fazer uma faculdade, podemos ter um emprego e ganhar nosso próprio dinheiro... A vida tá aí e a cada novo dia sempre precisamos tomar decisões, aumentamos ainda mais nossas pegadas e vamos aumentando nosso caminho.

Vai chegar um momento em que o mar simplesmente virá e apagará as pegadas. E simplesmente nosso caminho desaparecerá: morreremos.
Estou lendo um livro sobre a morte e, mesmo ainda tendo lido apenas umas 50 e poucas páginas, achei interessante muitas coisas que li. Por exemplo, o livro cita que, no inconsciente de nossas mentes, somos imortais. Conseguimos aceitar a morte do outro, mesmo sendo alguém próximo (o que, com certeza, é MUITO doloroso, mas... conseguimos aceitar, mesmo que parcialmente), mas não conseguimos aceitar a nossa morte. E isso ainda tem influência da Medicina e da própria sociedade, que tratam a morte como fracasso e inimiga, respectivamente. Não conversamos sobre a morte. Conversar sobre a morte traz azar, é algo desnecessário, é algo que deve ser deixado para a hora em que acontecer... ou não. Por que a morte é tão traumática? Talvez ela fosse menos traumática se nos propuséssemos a falar mais sobre ela, sofreríamos menos.

E o mar apagou as pegadas da mulher alguns segundos depois que ela passou correndo...

Nós somos breves. No fundo, pensamos que somos imortais, mas não somos.

Mais um ano se acaba. Mais um ciclo se inicia. E mais oportunidades virão para criarmos mais pegadas e aumentarmos nosso caminho.

O mar virá algum dia e apagará nossas pegadas? Sim, claro, essa é a única certeza absoluta que temos na vida. Mas estamos vivos e, enquanto houver areia úmida para formar pegadas, vamos aumentando nosso caminho.

A vida é realmente bela e um presente. E é uma raridade, sabe por quê? Até no momento da fecundação apenas um espermatozóide e um óvulo são usados, pensa bem em quantas possibilidades de vida (porque só gameta não é vida né) simplesmente viraram passado? Eu sei que essa parte ficou bem a cara de livro de autoajuda, mas não deixa de ser verdade.

A vida nos prega peças e surpresas, mas são coisas que não podemos prever.

Mas há uma coisa que podemos fazer: viver!

Venha 2017 e traga coisas boas, energia boa, uma vida boa.

Feliz ano novo! (Eu sei, falta 1 dia ainda, mas quero desejar logo!) :)

P.S. Essa foto dessa pessoa na praia sou eu no meu habitat natural: Canoa Quebrada! :)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A vela


Hoje foi mais um dia normal pra mim. Fui pra faculdade, assisti às aulas, voltei pra casa. Hoje foi apenas mais um dia normal pra mim. Mas, como eu falei: pra mim.

Enquanto caminhava pela faculdade (a minha faculdade tem muitos departamentos espalhados, logo, é bem grande), ao passar perto de um determinado departamento, vi um carro de uma funerária parado (provavelmente esperando algum corpo - de alguém que já fora vivo(a), como eu e como você que está lendo esse texto agora). Fiquei pensando: hoje pra mim é um dia normal, mas para essa pessoa, não há mais dia, e, para a sua família e amigos, hoje não é um dia normal nem um dia feliz.

Passei por essa sensação de perder alguém especial há menos de um mês e fiquei pensando: Nossa, essa pessoa está passando pelo que eu passei. É como se fôssemos televisões: hoje, na minha Tv, passou a programação habitual, mas para aquela pessoa não. Para ela a programação de hoje foi totalmente fora do habitual, fora do padrão. E, sinceramente, o habitual é o que mais faz falta. Quando você perde alguém, o que mais faz falta são os dias... comuns! Sim, o que mais faz falta é a rotina. O que mais faz falta é chegar em casa e não ter aquela pessoa lá, é acordar de manhã e saber que aquela pessoa não está mais aqui.

Somos todos uma chama de vela: não importa o tamanho da vela (comprida ou bem curtinha, com a parafina quase no final), a chama pode se apagar em qualquer momento. Temos a sensação de que temos controle sobre tudo, quando, na realidade, não temos controle sobre nada.

Na minha Tv hoje, a programação foi normal. Mas existem milhões de Tvs por aí com suas milhões de programações.

Mesmo assim, diante de programações diferentes, por que não tentamos ser empáticos? Mesmo com a programação normal em nossa Tv, por que não podemos amparar aquela pessoa em cuja Tv a programação mudou radicalmente?

Fui ao banco e duas pessoas se desentenderam por uma tremenda besteira que não vem ao caso: de que adianta se preocupar por tão pouco? Por besteira? No final do dia, ao refletirmos, esses atos fazem apenas mal. É isso que queremos lembrar enquanto a chama está acesa? É isso que queremos que nossa chama ilumine?

Uma - infeliz - coincidência aconteceu: uma pessoa da minha família partiu desse mundo hoje ao final do dia. E eu fiquei pensando: poxa, nós sempre acreditamos que nosso dia está longe (não só o nosso, como o das pessoas que amamos também) e acabamos não valorizando nossa vida, nossa rotina, nosso cotidiano, nossas pessoas queridas... E nossa chama está acesa! Nossa Tv ainda está funcionando! Mas não será para sempre, óbvio. Nunca saberemos até quando. O que sabemos é que somos finitos...

O que eu queria dizer com isso tudo? A morte existe e a morte é a certeza absoluta que temos. Mas a vida tá acontecendo, a vida é agora. Precisamos dar amor, precisamos receber amor, PRECISAMOS DE AMOR. O mundo tá sofrendo uma epidemia de depressão! As pessoas estão reféns das tecnologias, as pessoas preferem fazer um "textão" de agradecimento no Facebook do que falar o textão pessoalmente pra pessoa.

Vamos acordar, mundo! Vamos continuar usando as tecnologias, continuar usufruindo das novidades... mas, também vamos espalhar o amor enquanto estamos vivos e disseminar essa ideia. E aí, o que vc me diz?