terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

PBL - Problem Based Learning

Existem dois tipos de metodologia muito utilizados no Brasil referentes ao ensino da Medicina. Um deles é o método tradicional, o outro, o PBL, uma metodologia ativa baseada em problemas. Tive a oportunidade de vivenciar os dois. Darei, portanto, minha opinião.
Antes de tudo, faço uma crítica às pessoas que criticam o PBL sem, ao menos, ter experimentado por um semestre.Na minha opinião, só se fala sobre uma coisa quando se tem conhecimento dela, caso contrário, você pode falar besteiras ou mesmo faltar com a verdade.

Bem, o PBL é uma metodologia ativa. As aulas tradicionais com as quais estamos acostumados são raras. Na universidade onde estudei, nós tínhamos três conferências semanais, que seriam as aulas "tradicionais". O resto era bem interessante: toda segunda-feira e quinta-feira pela manhã, nós tínhamos os grupos tutoriais, ou GTs. Nesses GTs, nós, um grupo de 10 alunos, discutíamos determinado problema que nos era apresentado em nosso manual do módulo. Éramos supervisionados por um tutor.

A manhã sempre era composta por dois GTs: o de análise (no qual discutíamos sobre o problema, podíamos errar, mas não podíamos pesquisar nada. Falávamos o que sabíamos) e o de resolução (no qual resolvíamos o problema baseado nas referências nas quais havíamos pesquisado nossas informações). Sempre tínhamos que falar nossas referências e sempre dávamos notas aos colegas, de forma confidencial e entregávamos a folha de notas para o professor. Aliás, o professor também dava nota para cada aluno.

Na minha opinião, cresci muito com os GTs. Não costumava falar muito e passei a falar. Nós usávamos uma lousa convencional e também uma lousa digital para disponibilizar imagens para facilitar o aprendizado. Até mesmo nossa disposição dentro da sala era favorável: uma mesa alongada, como se fosse um retângulo, com as cadeiras em volta. Para ir bem nos GTs, precisávamos estudar (bastante) em casa fisiologia, farmacologia, anatomia e muito mais coisa que você puder imaginar. Não adiantava ir sem estudar, pois o professor com certeza perceberia, já que você não pode falar "besteiras" e lhe daria uma nota ruim.

Além disso, no final de cada GT de análise, nós traçávamos objetivos que deveriam ser solucionados no próximo GT. Esses objetivos deveriam estar de acordo com os objetivos do manual do professor. No final do GT, ele falava se nós havíamos conseguido englobar tudo ou não: caso sim, ótimo, caso não, ele dizia o que ficou subestimado.

Também tínhamos aulas integradas de anatomia, histologia e radiologia (que se comunicavam também com os GTs) no laboratório morfofuncional, o LMF. Os professores davam miniaulas e, em seguida, nós íamos para as peças de anatomia ou para o microscópio de histologia para estudar. Os professores continuavam na sala até o final da aula para que nós pudéssemos tirar nossas dúvidas. Era um momento também bastante enriquecedor. Além disso, cada bancada possuía dois computadores para facilitar nosso aprendizado. Sem contar no tamanho reduzido de alunos por turma (vinte alunos), o que facilitava muito o aprendizado.

(A turma toda era composta de 60 alunos. Mas fomos divididos em 3 "sub-turmas", cada uma com vinte alunos).

Além dos GTs e do LMF, também tínhamos o Laboratório de Habilidades, ou LH, onde era a parte em que nós nos sentíamos mais médicos. Nós aprendíamos procedimentos como higienização simples das mãos, aferição de pressão arterial, punção venosa periférica, etc. Era muito interessante, nós também realizávamos consultas com pacientes atores e tínhamos acesso a bonecos especializados para o estudo da Medicina. Além de aprimorarmos nossos conhecimentos no tema relação médico-paciente.

Também tínhamos o AIS (Ações Integradas de Saúde), nó qual visitávamos uma comunidade carente aqui de fortaleza, realizando pesquisas e tentando ajudar da forma como podíamos aquelas pessoas. Tivemos contato com nossos pacientes. Produzimos trabalhos científicos sobre saúde coletiva e ainda tivemos a oportunidade de conhecer o funcionamento de postos de saúde e policlínicas de atenção secundária, como o NAMI, nosso local de estudo.

Ainda tínhamos também o Laboratório de Ciências Básicas, o LCB, no qual íamos ao laboratório, produzíamos lâminas, mexíamos com sangue, separávamos os elementos do sangue do plasma, etc.

GT, LMF, LH, AIS, LCB... ufa! Acredite, o método PBL é uma metodologia ativa que realmente exige muito do aluno.

No momento, mudei de universidade, agora estudo na Universidade Federal do Ceará, onde o método de ensino da Medicina é o tradicional. Acredite, estou sentindo muito a falta do PBL. Ainda estou tendo dificuldades para me concentrar em tanta aula convencional, pois estava muito acostumada com os GTs e afins.

O problema é que muita gente tem preconceito com o PBL, principalmente aqui em Fortaleza, pois, aqui, o PBL é usado de forma satisfatória em universidades particulares. A UFC utiliza apenas no terceiro semestre e de uma forma precária. 

Na minha humilde opinião, o método PBL é mais "puxado" e toma muito o seu tempo, mas, em compensação, você aprende mais e fixa mais o conteúdo. No começo é diferente e dá um desespero, mas com o tempo você se habitua e passa a gostar. Eu, pelo menos, não gostava no começo, mas depois passei a gostar e a admirar. :)

Meu grupo tutorial Medicina UNIFOR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário